Crise também chegou ao alto rendimento

Há novas regras no alto rendimento português, e o último ano tem sido de adaptação das federações e dos atletas às mudanças. Na sequência da nova Lei de Bases da Actividade Física e do Desporto, foi aprovado um novo Regime Jurídico do Desporto de Alto Rendimento, algo que já não acontecia desde 1995, mas aquilo que parecia ser algo de positivo começa a receber críticas. Em síntese, melhoraram-se condições para quem é atleta de topo, mas tornou-se muito difícil lá chegar.

O diploma governamental teve como principais novidades a garantia de descontos para a Segurança Social, a atribuição de bolsa de reintegração para atletas que terminam a carreira ou isenções fiscais para empresas que contratem um atleta proveniente do alto rendimento. "Quisemos garantir a preparação, a segurança, a carreira e o pós-carreira dos atletas", disse, a O JOGO, o secretário de Estado da Juventude e do Desporto, Laurentino Dias.

No entanto, após uma década de várias conquistas para o desporto português, estar no topo passou a ter novas coordenadas. Agora, o novo regime distingue as modalidades olímpicas das não olímpicas e os praticantes por três níveis (A, B e C), consoante os resultados, valendo apenas as representações internacionais em provas de "elevado nível". Isto significa que, em modalidades individuais, termina o acesso por via de marcas de referência (mínimos) e, nas colectivas, são contabilizados Mundiais, Europeus e pouco mais. No atletismo, onde as maiores estrelas estão num patamar superior - a Preparação Olímpica (Prepol) -, a mudança ainda pode afectar nomes famosos como Fernanda Ribeiro e Rui Pedro Silva, mas sobretudo afasta dezenas de jovens. "No Norte, passa a existir um com estatuto, o Carlos Nascimento", diz um treinador, apontando o nono classificado nos Jogos Olímpicos da Juventude.

O andebol, que vive um período de bons resultados internacionais, pensa sobretudo nos reflexos nas Selecções femininas, mas as federações, em regra, apontam lacunas ao documento. Para o director técnico nacional de voleibol, Daniel Lacerda, o diploma veio "exigir resultados para só depois dar as condições". "Define-se um patamar de rendimento elevado para um país com fracos níveis de organização e desenvolvimento desportivo", acrescenta. Já Nuno Fernandes, antigo presidente da Comissão de Atletas Olímpicos, tem uma opinião diferente. "Tornou-se mais apertado entrar no alto rendimento, mas temos de aceitar que os recursos do País não são ilimitados", sustenta.Pouco mais de um ano atrás, Laurentino Dias dizia que a publicação do novo regulamento devia "ser uma festa para os atletas portugueses", mas daí para cá nem todos o têm entendido da mesma maneira.

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FONTE: JORNAL O JOGO
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